Fonte: XP Investimentos.
Quando os juros atingiam dois dígitos, há cerca de cinco anos, os investidores estrangeiros viam o Brasil como um paraíso de segurança e boa rentabilidade em títulos públicos, que chegavam a render mais de 1% ao mês.
Hoje, com a queda acentuada da taxa Selic (atualmente em 3% a.a.), somada à elevada percepção de risco global com a crise do coronavírus, acontece o contrário: os estrangeiros em geral mais saem do que entram no Brasil em busca de segurança e juros mais altos em outros países; e os brasileiros veem, com mais clareza, a oportunidade de diversificar os investimentos no exterior.
Investir no exterior: um mar de possibilidades
Por tantos anos, se fala em exclusivamente investir no Brasil e, praticamente, não se comentava colocar dinheiro em outro país. E não é porque somos patriotas nem por algum orgulho ou valorização dos investimentos nacionais, simplesmente, não era viável para a maioria das pessoas.
Mas de alguns anos para cá um movimento revolucionário mudou muito a percepção dos investimentos e abriu um gigantesco leque de opções no Brasil: a desbancarização.
Com a concentração menos exacerbada dos bancos e corretoras, houve uma democratização, que deu um importante acesso ao que antes era restrito apenas a empresas ou investidores milionários.
Certamente, isso foi fundamental para expandirmos os horizontes e começarmos a olhar para o mar de possibilidades dos investimentos no exterior.
3 motivos para investir no exterior
Os benefícios de se investir no exterior se mostram muito relevantes quando colocamos todos juntos. Assim, fica bastante claro que essa prática pode fazer muito bem ao bolso. Separamos os 3 principais motivos, veja:
Estar exposto a realidades diferentes
Se há a possibilidade de se expor financeiramente a mercados que são historicamente mais resilientes e mais sólidos, por que investir apenas no Brasil? Diversificar lá fora significa não estar sujeito, na totalidade, aos imbróglios político-econômicos e a eventuais crises que o Brasil possa enfrentar.
Ou seja, caso haja um escândalo político ou algum outro fato que impacte a economia brasileira, os investimentos que tendem a perder valor durante as crises nacionais não seriam afetados.
No entanto, é claro que é possível uma crise impactar o mundo, como a atual, desencadeada pelo coronavírus. Mas neste cenário, cada país responde à crise de forma diferente. E só de o dinheiro estar fragmentado em diversos tipos de investimentos, incluindo em mercados mais seguros em alguns países desenvolvidos, já há uma boa chance de diluir os riscos.
Aproveitar mercados e empresas mais consolidadas
Com ou sem crise, investir fora do Brasil é uma opção válida para aproveitar mercados mais consolidados. Ao compararmos, por exemplo, a Bolsa dos Estados Unidos com a Bolsa brasileira, já é possível perceber que são realidades diferentes, o que corrobora com o primeiro motivo.
Juntando as principais bolsas norte-americanas, como a NYSE (Bolsa de Nova York) e Nasdaq, há mais de 5.000 empresas listadas e, dentre elas, as maiores do mundo que se resumem no índice S&P 500, composto pelas 500 maiores empresas dos EUA, e com relevância global. No Brasil, são pouco mais de 300 empresas no total, sendo que apenas 75 ocupam o alto escalão do Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro.
Nesse sentido, um dado que realmente coloca em perspectiva a diferença de grandeza entre as Bolsas dos Estados Unidos e do Brasil é o seguinte: o valor de mercado de apenas uma das maiores empresas do mercado acionário dos EUA é o triplo da soma de todas as empresas do Ibovespa.
Seguir tendências que vão além das fronteiras do Brasil
Economicamente, o Brasil tem pilares importantes e reconhecidos mundialmente, como o agronegócio e a exportação de commodities. Mas como em qualquer lugar, há indústrias que se desenvolvem de forma mais acelerada em outros países.
Tecnologia
Por exemplo, a Tecnologia é uma área de destaque de nações como Estados Unidos, Japão, Alemanha, etc. Empresas desses países conduzem a indústria tecnológica no mundo e isso, de fato, já vem se intensificando com a crise do coronavírus, que vem forçando uma rápida transformação digital nas grandes corporações.
Para se ter uma ideia no S&P 500, o índice que reúne as maiores empresas do mundo, 1/3 é formado por companhias de Tecnologia e essencialmente digitais, enquanto no Brasil o setor de Tecnologia representa apenas 2% do Ibovespa.
Saúde
Outro setor de baixa representatividade no Brasil e muito presente nas Bolsas internacionais, como nos EUA e na Europa, é o de Saúde, que, por sinal, tem utilizado cada vez mais tecnologia para inovação e novos desenvolvimentos.
Assim, é possível, ao investir no exterior, seguir tendências onde elas realmente se originam e estão mais fortes, o que pode dar mais eficiência ao portfólio.
Opções para se investir no exterior
As opções para se investir no exterior são muitas e, cada vez mais, o público em geral consegue ter acesso, apesar de ainda ser um mercado mais restrito, em comparação aos tradicionais.
Vamos mostrar a gama de possibilidades para investir no exterior, como os Fundos Internacionais, ETFs, BDRs e COEs.
Fundos internacionais
Se no Brasil, mercado que estamos familiarizados, já é complexo investir por conta própria, imagine ter que se aventurar sozinho no vasto mundo dos ativos internacionais.
Em casos assim, e também se você não quer (ou não tem tempo) de acompanhar com afinco o mercado de forma recorrente, o mais recomendado é aplicar em fundos de investimento porque há especialistas, no caso os gestores, fazendo esse trabalho por você.
Como funciona?
Primeiramente, os fundos internacionais são aqueles que investem majoritariamente em ativos globais. Dependendo de sua classificação, eles podem investir em ações, renda fixa, câmbio e fazer uma mescla desses investimentos de outros países (multimercados).
Veja abaixo uma breve explicação de cada classe nos Fundos Internacionais:
- Fundos de Renda Fixa Global: Investem em títulos públicos de outros países e, em geral, nos Bonds, como são conhecidos os títulos de Renda Fixa dos Estados Unidos. Portanto, há Fundos de Renda Fixa Global que se expõem a um risco mais elevado com os chamados High Yield Bonds.
Comparados aos Fundos de Renda Fixa do Brasil, os globais costumam fazer a marcação a mercado de forma mais recorrente, o que eleva o risco e a sua volatilidade. Portanto, são indicados para perfis que suportam maior risco na carteira, como o moderado e o agressivo.
- Fundos de Ações Global: Os tipos mais comuns de fundos que investem em Bolsas de outros países são aqueles com gestão ativa, que podem, então, se posicionar e investir com estratégias mais independentes, e os que se referenciam no S&P 500, que, basicamente, buscam uma rentabilidade colada ao índice que representa o desempenho das maiores ações da Bolsa dos Estados Unidos.
- Fundos Cambiais: Há fundos disponíveis aqui no Brasil com exposição cambial, isto é, tanto o lucro quanto o prejuízo serão revertidos em dólar, e há os que oferecem justamente essa proteção contra a variação da moeda norte-americana, com o que o mercado chama de hedge cambial.
Quem pode investir?
A maioria dos fundos internacionais é, por enquanto, para investidores qualificados e recomendados para os perfis moderado e agressivo.
As opções disponíveis são:
Trend Bolsa Americana e o Western US Index, que replicam o índice S&P 500.
Western Asset FIA BDR, que tem como objetivo superar o S&P com uma estratégia de investimentos em BDRs.
Trend Dólar FI Cambial, que replica a variação do dólar.
Trend Tecnologia, que investe no MSCI US Investable Market Information Technology, índice composto por uma cesta de ações do setor de tecnologia, principalmente nos EUA.
Exchange Traded Funds (ETFs)
Os ETFs são uma das primeiras opções que vem à cabeça quando se fala em investir no exterior. Sigla para Exchange Traded Funds, os ETFs são, a grosso modo, fundos negociados na Bolsa que replicam algum índice do mercado. Para simplificar, eles também são conhecidos somente por fundos de índice.
Mas como assim? Se alguém falar para você que, por exemplo, não é possível investir no Ibovespa ou no S&P 500, índices das Bolsas brasileira e dos Estados Unidos, respectivamente, agora você já sabe que com os ETFs isso é plenamente viável.
Inclusive, os ETFs internacionais foram aprovados e recomendados pelo megainvestidor Warren Buffet, que na reunião anual da Berkshire Hathaway, disse que são ótimas opções para seguir, por exemplo, a Bolsa norte-americana.
O oráculo de Omaha, como Buffet é conhecido no mercado financeiro, acredita que replicar o S&P 500 é uma estratégia benéfica para a composição de uma carteira de investimentos a longo prazo.
Como funciona?
O ETF é gerido por uma empresa que emite o ativo por meio de uma oferta pública na Bolsa brasileira, a B3. Assim, a cesta de ativos é definida pela instituição para replicar um determinado índice.
Para investir nos ETFs, diferentemente dos fundos de investimento, que basta ter a conta na corretora, é preciso acessar o Home Broker, a ferramenta que entra no ambiente da Bolsa e onde se compra e vende os ativos, assim como as ações. Depois disso, é só seguir mais três passos:
- Digite o código do ETF, por exemplo: IVVB11. Em seguida, aperte em comprar.
- Aparecerá uma tela com o ativo escolhido. Assim, preencha a quantidade desejada (normalmente, o mínimo é de 10 cotas). Caso você queira comprar no mercado fracionário, basta inserir F depois do código no campo “Ativo”. Exemplo: IVVB11F.
- Depois, o valor final do seu investimento aparecerá na tela. A partir disso, basta inserir a sua assinatura eletrônica e clicar em “Enviar Ordem”.
Quais ETFs internacionais estão disponíveis no Brasil?
No mercado em geral, há ETFs de todos os tipos e replicando os milhares de índices que existem pelo mundo. Mas, no Brasil, esse é um mercado que ainda engatinha e há apenas dois com exposição a ativos para investir no exterior:
- IVVB11: Gerido pela BlackRock, esse ETF tem como referência o índice S&P 500, formado pelas 500 maiores ações dos Estados Unidos.
- SPXI11: Esse ETF, da gestora do banco Itaú, também busca replicar o desempenho do índice internacional S&P 500.
Quem pode investir?
Não há restrição de investimento nos ETFs, basta o investidor ter uma conta em uma corretora. Quanto aos perfis, são indicados mais para perfis moderados e agressivos.
Brazilian Depositary Receipts (BDRs)
Os Brazilian Depositary Receipts (BDRs) são a forma mais direta para o investidor brasileiro aplicar em uma empresa na Bolsa dos Estados Unidos.
São ativos, disponíveis na Bolsa brasileira, que atuam como espelhos das ações norte-americanas. Portanto, é possível investir nas maiores companhias do mundo, como Amazon, Apple, Facebook e, inclusive, na já mencionada Berkshire Hathaway, de Warren Buffet.
Atualmente, ao contrário dos ETFs, é possível montar uma carteira muito bem diversificada de diversas ações da Bolsa dos EUA, afinal são mais de 550 BDRs listados na B3.
Como funciona?
Os BDRs são negociados na Bolsa assim como os ETFs, ações e outros ativos. Mas eles têm uma particularidade que os diferencia e, dependendo do caso, podem valorizar mais do que ação original dos Estados Unidos.
Isso pode ocorrer por causa do efeito do câmbio já que, ao investir em BDRs, os preços das ações estão em dólar. Ou seja, se o dólar se valoriza em relação ao real, automaticamente o valor do papel também aumenta. E isso pode ser um fator de impulsionamento no lucro dos BDRs, característica que os ativos originais não têm.
Para investir no BDR da empresa desejada, é necessário buscar o ticker (código das companhias na Bolsa). Com esse código anotado, basta seguir o mesmo passo que os ETFs no Home Broker, selecionando o quanto você quer aplicar.
Quem pode investir?
Por enquanto, os BDRs são produtos financeiros exclusivos para investidores qualificados, o que não permite o acesso a esse tipo de investimento no exterior pelo público em geral.
Certificado de Operações Estruturadas (COE)
O COE é mais um dos investimentos disponíveis no mercado com acesso a ativos internacionais. É uma espécie de pacote de vários investimentos colocado em uma estrutura específica, da classe de derivativos, em que a rentabilidade depende de alguns cenários, combinando a relação entre alto risco e bom retorno da renda variável com a segurança da Renda Fixa.
A partir de um COE, você pode ter exposição a investimentos que, normalmente, não seriam viáveis, como aplicar em ouro, investir em empresas internacionais, seja na bolsa americana ou europeia, ou conseguir acesso a fundos internacionais, por exemplo.
Como funciona?
Há diversos tipos de COE e diferentes estruturas. Mas vamos a um exemplo mais simples e básico para você entender como funciona esse investimento.
Imagine que você queira, por exemplo, investir nas principais empresas da Bolsa dos Estados Unidos, por meio do índice S&P 500.
Já apresentamos aqui opções para acompanhar a rentabilidade do índice norte-americano, como fundos internacionais e ETFs. Mas com esta estrutura de COE, estratégia comum no mercado de derivativos, há um diferencial a ser considerado: você pode ganhar tanto na alta quanto na baixa.
Além disso, esse tipo de COE, assim como muitos outros, tem 100% do capital protegido. Isso significa que você pode ter o seu dinheiro de volta a depender de cada situação descrita no regulamento do COE.
Quem pode investir?
Há COEs para os mais variados perfis e, por isso, basicamente é um produto bastante acessível ao público em geral. Mas lembre-se sempre de verificar a compatibilidade do seu perfil com o risco do COE para entender se esse investimento está de acordo com os seus objetivos.
Um respiro que faz bem ao bolso
Quanto mais engessada uma carteira de investimentos, menos possibilidades para explorar outras características importantes que podem dar mais dinamismo à alocação do seu dinheiro. Como vimos neste guia, o conceito de diversificação está intrínseco aos investimentos internacionais.
Assim como respirar novos ares é um dos motivos de mochileiros gostarem tanto de viajar, os investimentos, se falassem e criassem consciência, diriam a mesma coisa. Mas cabe a nós deixar o tabu de lado e transformar isso, quando possível, em uma realidade que faz muito bem ao bolso.