Quem busca maturidade no mercado financeiro não pode abrir mão de entender o conceito de carteira de investimentos — e, se possível, utilizar esse instrumento na prática. Afinal, encontrar o equilíbrio entre aproveitar as oportunidades e proteger-se contra os riscos requer uma gestão eficiente dos ativos.
Embora não haja uma cesta de investimentos padronizada, que sirva para qualquer pessoa, o uso de uma carteira de aplicações financeiras contribui para que o investidor se posicione de modo adequado para cada contexto econômico.
Como a cesta de ativos deve ser customizável para atender às necessidades e aos objetivos de quem investe, é preciso cumprir alguns requisitos para formar um conjunto de aplicações realmente vantajoso.
Conheça, a seguir, a definição de carteira de investimentos e veja como montar a sua de acordo com o seu perfil de tolerância a risco. Boa leitura!
1. O que é a carteira de investimentos
O termo “carteira de investimentos” serve para designar uma série de aplicações financeiras pertencentes a uma pessoa física ou jurídica. Se numa carteira de bolso você pode levar notas de dinheiro, cartões, cheque e moedas, numa carteira de investimentos é possível ter vários tipos de ativos, tanto de renda fixa quanto de renda variável.
De modo geral, esse instrumento serve para a diversificação de aplicações e para o gerenciamento de risco. Como você talvez já saiba, não existe um investimento 100% seguro — afinal, até mesmo a caderneta de poupança já foi confiscada pelo governo no início da década de 1990.
É bem verdade que a situação atual do Brasil é bem diferente daquela época. No entanto, certos ativos são arriscados pela própria natureza, como as ações de companhias abertas, cujas cotações podem subir ou descer conforme as percepções do mercado.
Diante das possibilidades de perdas, oriundas de diversos fatores, cabe ao investidor utilizar mecanismos para proteger o próprio capital e, além disso, aproveitar as oportunidades de cada cenário econômico.
Vale lembrar que, diferentemente de uma carteira de bolso, uma carteira de investimentos não ocupa, necessariamente, um local específico. Por vezes, o investidor possui uma cesta de vários ativos, mas não mantém um controle formal e único sobre eles. Nessas situações, a pessoa só considera a evolução das aplicações separadamente e não o total da cesta.
Por outro lado, há quem utilize a carteira de investimentos com certa formalidade — quer dizer, com uma visão conjunta dos ativos. Nesse caso, o indivíduo enxerga as aplicações como um grupo só, geralmente dividido por categorias, além de utilizar estratégias bem definidas para montar esse rol de ativos.
Tal perspectiva é mais vantajosa, pois leva em conta o patrimônio líquido da carteira. Afinal, um olhar fragmentado pode gerar prejuízos no longo prazo.
Quem não monitora os diferentes ativos que compõem uma cesta de investimentos, por exemplo, corre o risco de comemorar demais o ganho numa aplicação, mas se esquecer de contabilizar as perdas em outra. Assim, em vez de ser um instrumento de gestão dos investimentos, a carteira pode se tornar uma mera mistura de ativos.
2. Como montar uma carteira de investimentos
Como mencionamos, a formação de uma carteira de investimentos leva em conta fatores bastante pessoais. Isso não significa que os critérios de escolha de ativos serão baseados somente numa visão subjetiva do investidor, mas que a cesta de aplicações deve refletir a realidade única de quem investe. Entenda melhor a seguir.
Não é porque o megainvestidor americano Warren Buffett possui determinada composição de carteira que ela servirá para você ou para qualquer outra pessoa.
Na verdade, a formação da cesta de ativos deve considerar o perfil de tolerância a risco do investidor, os seus objetivos financeiros, o capital disponível para aplicação, o tempo esperado de resgate dos valores, entre outros fatores.
Como você pode perceber, esses aspectos são únicos para qualquer pessoa e as respostas para cada um desses itens serão diferentes conforme o indivíduo.
Alguém que pretende obter o dinheiro de volta daqui a dois anos tem uma demanda distinta de quem investe para alcançar uma renda habitual durante a aposentadoria. Da mesma forma, quem possui um capital de R$ 50 mil para aplicar tem possibilidades diversas de quem dispõe de R$ 1 milhão.
Nesse sentido, quanto mais a carteira de investimentos for alinhada à realidade da pessoa, melhores são as chances de retorno positivo. Quer saber como chegar a essa condição? Sem dúvida, uma boa dose de autoconhecimento é importante para alcançar esse estágio de sintonia entre carteira e propósitos pessoais.
Contudo, só isso pode não ser suficiente. O auxílio técnico de uma assessoria de investimentos é de grande valia para a identificação do perfil do investidor e para o correto alinhamento entre as suas necessidades e os diversos ativos existentes no mercado.
Muitas vezes, o investidor solitário deixa de obter lucros satisfatórios ou, na pior das hipóteses, toma um grande prejuízo, simplesmente por desconhecer algumas aplicações ou o correto funcionamento de determinados ativos.
Quando gerenciada por uma assessoria de investimentos, uma carteira leva em consideração não só o risco total como também o impacto de cada ativo no resultado geral da cesta. Em certa medida, é como se o indivíduo tivesse um fundo de investimento personalizado, com uma gestão profissional.
Nesse caso, a assessoria e o cliente definem uma estratégia, com uma correspondente composição da carteira — estas devem ser seguidas ao longo de certo período. De tempos em tempos as aplicações são revistas para que fiquem adequadas aos anseios do investidor e à realidade econômica.
Ainda com relação à gestão da carteira de investimentos, vale lembrar que hoje em dia já existem plataformas digitais que permitem uma visão panorâmica de toda a cesta de ativos.
Assim, o investidor não precisa fazer um controle unitário das aplicações e pode visualizar a composição total da carteira. Com as informações todas em um só local fica mais fácil acompanhar a evolução dos investimentos e tomar decisões com mais inteligência financeira.
3. Como funciona a diversificação
Você já sabe que a diversificação de ativos é um dos principais objetivos de uma carteira de investimentos e talvez se questione sobre como colocar isso em prática, certo?
É importante mencionar, desde já, que a diversificação de investimentos não é uma distribuição aleatória de recursos entre diferentes aplicações. Na verdade, a alocação de ativos deve seguir um método próprio, baseado na estratégia de investimentos previamente definida.
Vale lembrar que o ato de diversificar deve ser pensado de forma racional. Afinal, de que adianta dividir o capital em um grande número de ativos se o investidor não tem condições de acompanhar todos eles com o nível de compreensão necessário para obter bons resultados?
Além disso, conforme o capital disponível, nem sempre vale a pena dividir demais o dinheiro entre vários investimentos, pois os custos operacionais das aplicações podem não compensar a rentabilidade. Logo, a estratégia de diversificação deve estar alinhada à realidade do investidor.
Quanto à distribuição dos recursos propriamente dita, como você já deve imaginar: não há uma regra padronizada. Em geral, há um balanço entre alocação em renda fixa e em renda variável, em diferentes pares de porcentagens, que podem até começar entre 100% e 0% entre uma classe de investimentos e outra.
Os números a seguir são apenas a título de ilustração, para que você tenha uma ideia de como pode ser feita a diversificação. Um investidor com perfil conservador pode optar, por exemplo, por direcionar todo o capital para as vantagens da renda fixa ou, se for o caso, destinar somente 10% para a renda variável.
No próximo degrau, está quem escolhe investimentos de risco moderado, como ações de empresas, fundos imobiliários e debêntures. Por vezes, investidores desse perfil optam por colocar entre 60 e 70% do capital em renda fixa e entre 40 e 30% em renda variável.
Em um estágio acima na escala de tolerância a risco estão as pessoas com perfil agressivo, que buscam se expor mais em troca de maiores taxas de rentabilidade. Tais indivíduos são capazes de colocar uma quantia significativa do capital em renda variável para impulsionar os retornos.
Tal postura deve ser precedida de conhecimento e disciplina para que não se caia em uma grande armadilha. Depois de dividir o capital entre renda fixa e renda variável, os investidores ainda podem distribuir os recursos dentro de cada uma dessas classes de aplicações.
No primeiro caso, por exemplo, é possível diversificar com títulos públicos federais, Certificado de Depósito Bancário (CDB), Letras de Crédito Imobiliário (LCI), Letras de Crédito do Agronegócio (LCA), entre outras possibilidades. No segundo dá para aplicar em ações da bolsa de valores, fundos de investimentos, contratos futuros, etc.
Além disso, o investidor ainda pode diversificar em relação aos emissores dos ativos e aos prazos das aplicações. Ele pode, por exemplo, escolher CDBs de vários bancos, para se resguardar quanto ao limite de desembolso do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), em caso de inadimplência da instituição bancária.
Já sobre os períodos de aporte, o investidor pode escolher ativos com datas de vencimento subsequentes para receber uma renda habitual. Seja qual for o critério de diversificação, o auxílio de uma assessoria de investimentos é bem útil para que o investidor tenha noção de quais ativos mais combinam com a estratégia por ele escolhida.
Existem pares de aplicações que possuem movimento inverso, por exemplo — ou seja, quando uma cai, outra sobe. No caso do mercado acionário, há ações que respondem de modo oposto a um mesmo estímulo, como a alta ou a baixa do dólar.
Entenda: enquanto para uma exportadora de celulose a valorização da moeda dos Estados Unidos é bem-vinda, para uma companhia aérea essa subida pode significar aumento do custo de combustível. Como consequência desse cenário, as ações dessas empresas responderiam com alta e queda na bolsa, respectivamente.
Com a ajuda de profissionais especializados no mercado financeiro, o investidor pode se proteger contra movimentos bruscos na economia, tanto no curto quanto no longo prazo.
Uma maneira de fazer isso, conforme a estratégia da carteira de investimentos, é por meio de operações estruturadas, em que se combinam alguns ativos em busca de determinado resultado. Como essas aplicações possuem certa complexidade, o apoio técnico de uma assessoria é fundamental para que o investidor não se arrisque à toa no mercado.
4. Como descobrir o seu perfil de investidor
Quando se fala em perfil de investidor, geralmente se considera o conservador, o moderado e o agressivo. Tal classificação leva em conta principalmente a tolerância a risco do indivíduo.
Existem vários testes na internet para que o investidor descubra o próprio perfil. Por meio de diversas perguntas, essas ferramentas sintetizam a “personalidade do investidor” no que diz respeito à propensão ao risco. Via de regra, o perfil conservador caracteriza pessoas que priorizam a preservação do patrimônio e não admitem perdas.
Por isso, elas investem predominantemente em aplicações de renda fixa, que funcionam como se fossem empréstimos, em que o indivíduo transfere um valor para alguém (banco, governo, empresa) e, passado certo tempo, recebem a quantia original com juros e/ou correção monetária, conforme cada caso.
Já o perfil moderado é uma espécie de meio-termo entre o conservador e o agressivo. Ao se distanciar dos extremos, esse investidor busca equilibrar as vantagens da renda fixa, como a segurança, e os benefícios da renda variável, como o maior potencial de multiplicação de capital.
O perfil agressivo, por sua vez, prioriza a rentabilidade como critério de escolha dos ativos. Quem possui consciência de que tem esse perfil, geralmente realiza operações no mercado financeiro “sabendo o que está fazendo”. Uma postura assim é bem diferente de quem age como um kamikaze, sem consideração dos possíveis efeitos das aplicações.
Vale mencionar que o perfil de investidor não é algo estático. Com algumas exceções, um indivíduo pode ter os três perfis ao longo da vida. Mudanças no capital disponível para investimentos, na idade da pessoa e nos objetivos financeiros também podem contribuir para transformar o perfil de alguém no decorrer do tempo.
Um jovem em início de carreira pode se expor mais à renda variável, por exemplo, para multiplicar o próprio capital, pois poderá recuperar eventuais prejuízos nos anos seguintes. Já quem está perto da aposentadoria não pode se dar ao luxo de agir de forma agressiva nos investimentos, sob pena de perder capital e comprometer a própria sobrevivência.
Se ainda assim você não está bem seguro quanto ao seu perfil de tolerância a risco, saiba que existe a Instrução nº 539 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a qual estabelece que os profissionais e as instituições do mercado de capitais devem verificar o perfil do investidor antes de ofertar produtos, serviços e operações.
O objetivo dessa norma é que eles só disponibilizem aplicações que sejam entendidas por quem investe. Além dessa Instrução da CVM, existem outras regras utilizadas na intermediação desses tipos de negócios, como práticas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Como forma de condensar as diversas normas do setor, as corretoras, os bancos e os agentes autônomos de investimentos buscam seguir políticas de suitability para garantir a compatibilidade das aplicações ao perfil do investidor.
Para tanto, as corretoras fazem um teste com o cliente antes da aplicação de recursos justamente para identificar o perfil do investidor. A partir do resultado, são oferecidos somente produtos e serviços que se adequam ao resultado do teste.
A propósito, se um investidor inicialmente conservador quiser investir em ações mais tarde, ele terá que refazer a avaliação com a corretora, para só depois ter acesso aos ativos de renda variável. Tal medida serve para que o cliente tenha realmente conhecimento dos riscos envolvidos na bolsa de valores.
5. Exemplos de carteira de investimento
Como já mencionamos, existem várias estratégias montar uma boa carteira de investimentos — seja com uma postura mais defensiva ou agressiva. De modo geral, uma cesta de ativos é dividida inicialmente nos ativos de renda fixa e de renda variável. Em seguida, pode haver uma distribuição dentro de cada classe.
O acompanhamento da evolução da carteira é feito em uma periodicidade definida, como mensal ou trimestral. Além disso, o investidor pode fazer aportes mensalmente para manter as proporções previamente estabelecidas. Vamos a alguns exemplos.
Carteira de investimentos com perfil conservador
100% do capital na renda fixa. Distribuição:
50% em títulos públicos do Tesouro Direto;
25% em CDBs;
25% em LCIs.
Carteira de investimentos com perfil moderado
70% do capital em renda fixa e 30% em renda variável. Distribuição:
35% em títulos públicos do Tesouro Direto;
20% em CDBs;
15% em LCIs e LCAs;
15% em ações;
15% em fundos de investimentos.
Carteira de investimentos com perfil agressivo
30% do capital em renda fixa e 70% em renda variável. Distribuição:
15% em títulos públicos do Tesouro Direto;
15% em CDBs;
25% em ações;
20% em fundos de investimentos;
10% em fundos imobiliários;
10% em operações estruturadas;
5% em dólar.
Como você já sabe, não existem carteiras de investimentos padronizadas — logo, as distribuições anteriores são apenas para que você tenha uma noção de como pode ser a divisão do capital. As porcentagens efetivamente praticadas dependerão do perfil do investidor, do contexto econômico e da estratégia utilizada.
6. Quais são os riscos
A relação entre risco e retorno está presente em qualquer aplicação financeira. Quanto maior é o primeiro, maior tende a ser o segundo e vice-versa. No mercado financeiro não existe mágica e, por isso, não há como ganhar muito dinheiro com pouco risco. Logo, é necessário utilizar estratégias eficientes para minimizar perdas e potencializar lucros.
Via de regra, uma carteira de investimentos está sujeita aos riscos de crédito, de liquidez, de mercado, de alavancagem e da utilização de derivativos. O risco de crédito diz respeito à possibilidade de inadimplência de quem ficou com os recursos do investidor, como no caso da falência de um banco.
Já o risco de liquidez se refere à dificuldade para se transformar o ativo em dinheiro em espécie. Quem comprou imóveis para investir não consegue ter a quantia de volta com certa rapidez, não é mesmo? O risco de mercado, por sua vez, compreende as oscilações nos preços dos ativos financeiros, de acordo com o cenário econômico.
Se uma pessoa alocou certa quantia em ações para resgatar o valor em determinado prazo e precisa antecipar a retirada, talvez a venda aconteça em um momento pouco favorável — com isso, a pessoa sai da operação no prejuízo ou no “zero a zero”.
O risco proveniente da alavancagem ocorre quando o investidor opera com um valor superior ao próprio capital, com o auxílio de uma espécie de financiamento de uma instituição, como uma corretora.
Nesse caso, se a operação dá certo, a pessoa possui um lucro maior, correspondente ao dinheiro usado na transação. Entretanto, se der errado, as perdas podem inclusive superar o capital inicial. Por isso, a alavancagem deve ser usada com cuidado.
Por fim, o risco ligado ao uso de derivativos muitas vezes está associado à falta de aplicações necessários para proteger determinada operação. Como o nome diz, derivativos são ativos que “derivam” de outros.
Geralmente, os investidores utilizam tais aplicações para se prevenir em relação a outra aplicação, por meio do mecanismo de hedge. Se um ativo tem queda na cotação por influência de certo fato, por exemplo, é possível usar um derivativo que tem movimento inverso.
Entretanto, o risco pode existir quando não se consegue no mercado um derivativo com as condições adequadas à proteção que se deseja.
Como você pôde perceber, a carteira de investimentos é uma maneira eficiente de gerenciar as aplicações financeiras — bem como de diversificar ativos e conter riscos. Para que ela realmente seja vantajosa, é necessário que esteja devidamente atrelada ao perfil do investidor e à estratégia que ele definiu.
Com o auxílio de uma assessoria de investimentos, o investidor pode traçar a melhor tática para formar a carteira, além de ganhar agilidade no monitoramento da cesta de ativos. Assim, ele favorece os lucros e minimiza as perdas.
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