Artigo Especial – 2013 – A hora do Risco II?
Não costuma fazer parte de nosso escopo diário a produção de artigos ou textos sobre o mercado financeiro, haja vista a quantidade de material que produzimos em vídeos, palestras e outras mídias utilizadas em nosso core business.
Eventualmente, quando surge alguma chama inspiradora, me arrisco a rabiscar algumas palavras que acredito fazer algum sentido prático e não caiam em lugar comum. O único momento que tenho como compromisso pessoal o caminho da escrita, é tentar passar minhas impressões para o ano vindouro.
Via de regra concentro minha linha de raciocínio na renda variável, pois boa parte de nosso dia-a-dia operacional está ligado ao tema e quem já nos conhece também espera nosso ponto de vista para um futuro ampliado. Esse ano farei um pouco diferente. Não irei me abster das “famosas” projeções, mas gostaria de estender este artigo como se fosse uma continuação de “A Hora do Risco” que escrevi em fevereiro desse ano. Mas por que isso? Relendo o artigo, mesmo passados quase 10 meses, ele permanece inteiramente atual e, talvez, mais relevante agora.
Estávamos no início do ciclo de queda de juros e diante de uma nova realidade das aplicações financeiras: as “vacas gordas” e fáceis estavam desaperecendo e o investidor precisava sair da “zona de conforto” para garantir no mínimo ganhos superiores à inflação.
Esse cenário acelerou mais do que eu mesmo esperava e a urgência na virada de atitude por parte dos investidores tornou-se premente.
As cartas já estão na mesa e o cenário de 2013 me parece muito claro: Juros estáveis ou levemente decrescentes; inflação ainda fora da meta, mas controlada; PIB superior a 2012 e mais do mesmo em relação à equipe econômica: desonerações pontuais e incentivos ao consumo. O que poderia ser diferente na relação macroeconômica? A necessidade de investimentos em infra-estrutura que na minha opinião acontecerão com ou sem Mantega.
Premissas na mesa, vamos ao que interessa: O que fazer com o dinheiro dos investimentos?
O título ala cinema Americano (parte II, III , etc.) faz todo sentido nesse artigo, pois se em fevereiro eu sugeri a necessidade de corrermos mais riscos, com o cenário previsto, o diagnóstico e a dose do remédio, aumentaram.
Aquela velha aplicação na poupança, nos fundos referenciados DI com altas taxas de administração, Previdência com taxa de carregamento e altas taxas, títulos de capitalizações, são aplicações que no cenário descrito irão performar de forma negativa. Ainda permanece a ilusão do ganho nominal, mas quando descontada a inflação já sabemos o que ocorre.
Refrescando minhas recomendações do artigo anterior, reforço que elas permanecem exatamente as mesmas com ênfase ainda maior!!!
1) Fundos Imobiliários
2) Fundos Multimercados e de Crédito Privado
3) Renda Fixa indexada a IPCA
4) Bolsa de valores
Alguém poderia me perguntar: E os fundos de inflação? Eles ainda podem ser uma boa alternativa, mas tenho a impressão que já capturaram a maior parte dos ganhos em 2012, pela velocidade da queda dos juros.
Os Fundos Imobiliários foram mais uma vez a grande estrela do mercado: Na média, tiveram desempenho acima de 30% entre valorização de cotas e yields. O IFIX (ind imobiliário), no dia em que escrevo, está batendo no maior patamar desde a sua criação. Sem dúvida alguma, neste momento é a melhor alternativa para investir em imóveis. Somados a performance, esse setor vive o que os especialistas apontam como “Alinhamento de planetas”: taxas de juros decrescentes; baixa vacância; isenção tributária; financiamento crescente e aumento de liquidez permitindo rápida saída sem prejuízo. Além disso, a possibilidade de participarmos de empreendimentos que dificilmente na pessoa física teríamos condições, por maior que fosse o valor do cheque.
Os Fundos Multimercados, principalmente o de gestão ativa, são alternativas para vencermos o referencial de mercado (CDI) e apostarmos na competência de renomados Gestores. O surgimento de Hubs como a XP Investimentos, Orama e algumas outras casas que começaram a ampliar o escopo de distribuição, permitiram ao pequeno investidor acessar Fundos e Gestoras Independentes que normalmente não estariam disponíveis com tanta facilidade ao Varejo. Esse movimento é tão potente e consistente que os Bancos tradicionais já começaram a oferecer plataforma multimarca a alguns clientes private (eles começam sempre por cima. Os reles mortais tem que aguardar).
Os Fundos de Crédito Privado oferecem a possibilidade de fugirmos um pouco do universo dos títulos públicos dos fundos referenciados. Normalmente, pagam um prêmio de risco um pouco mais alto, pois apostam em debêntures e FDICs. Na maior parte das vezes, o investimento tem saída em 30 dias. Como composiçao de carteira de longo prazo também elenco como uma boa possibilidade.
Nos títulos de renda fixa não nos resta outra alternativa: temos que buscar remuneração atrelada ao IPCA (ou IGPM) e, principalmente, no universo das isentas de IR: CRIs, LCAs, LCs, LCIs. Para valores na casa dos 7 dígitos (ou mais) ainda restam algumas DPGEs e as NTNBs com prazos alongados.
Provavelmente, no ano de 2013 teremos ofertas de debêntures isentas de IR, principalmente ligadas a investimentos em infra-estrutura. Sem dúvida alguma, teremos que prestar atenção nestes lançamentos também.
E agora, a velha e boa pergunta: O que esperar da Bolsa?
Eu, particularmente, estou otimista para o mercado de renda variável em 2013.
Fundamento minha crença em alguns pontos que me chamam a atenção. Vejamos o front externo – China aparentemente estabilizada nos 8% de crescimento (o que está ótimo); Europa aos trancos e barrancos, mas com um cenário melhor do que no final de 2011; EUA ajustando-se (como sempre) e, possivelmente, crescendo mais do que 2012. Em resumo, se não ajudar também não atrapalha.
Mas minha tese busca mais fundamentos internamente. Não capturamos quase nada do novo ciclo de taxas descendentes. Reparem no cenário atual: taxas de juros reais abaixo de 2%; financiamento farto; fluxo de investimentos ainda consistente; recursos de private éqüites represados aguardando projetos; consumo interno robusto; menor índice de desemprego da historia; limite do intervencionismo governamental já precificado e muita coisa por fazer, principalmente em infra-estrutura.
Pelos mesmos motivos que sugiro que o investidor pessoa física saia da zona de conforto, os investidores institucionais serão OBRIGADOS a saírem das taxas atuariais garantidas pelos títulos públicos. Isso por uma razão muito simples: elas não existem mais e creio que tão cedo não voltarão a existir. Tem fluxo comprador represado.
Estamos no terceiro ano de desempenho pífio no nosso principal índice. A Copa do mundo está aí. Temos uma previsão de safra recorde em 2013 e os efeitos dessa mudança estrutural nas taxas de juros nem deram sinal de vida (na minha opinião isso é quase inacreditável). Uma hora a ficha cai!
Outro ponto importante. Há algum tempo o IBOVESPA, por concentrar muitas empresas ligadas a comodities e de setores que performaram muito mal, escondem uma outra face de Cias que cresceram muito e entregaram ótimos resultados. Isso fica muito claro ao analisarmos Fundos de ações com carteira livre, onde os gestores com liberdade de açao estão oferecendo mais de 14% de resultado médio. Pessoal, em um ano melancólico como esse, são 200% do CDI!!!
Mesmo não gostando muito do nosso Ministro da Fazenda, seus esforços de curto prazo vão exercer algum tipo de influência e nosso PIB irá crescer mais do que 3% este ano. Isso por si só, na medida que os agentes acreditarem definitivamente nessa possibilidade, impulsionará o mercado de renda variável. Acredito, no mínimo, no teste de nosso topo histórico, preparando o rompimento para 2014, mas não duvide que ocorra ainda em 2013!
Sejamos seletivos. Sugiro não comprarem mais índice. As principais casas que cobrem as empresas listadas têm apresentado um ótimo trabalho. Leiam, estudem, busquem informações e, se possível, participem de apresentações trimestrais via APIMEC ou RI das empresas. Não tem tempo? As principais publicações financeiras divulgam índices de performance dos principais gestores de renda variável. Analise o histórico recente e o nem tão recente assim (veja como foi em 2008). Tenho certeza que algum FIA você encontrará.
Portanto, se há quase um ano sugiro a saída da zona de conforto, multiplique esse conselho por 10, pois o momento é agora. A hora de arricar um pouco mais até já passou, mas ainda dá tempo.
Se ficarmos esperando um conjunto de notícias boas para tomar coragem, elas virão provavelmente na hora de vendermos as posições.
Tenhamos um ótimo 2013!
André Luis Momberger