Sempre que você arriscar exercícios de futurologia, seja na área econômica ou até mesmo imaginando para onde o mundo caminha antropologicamente como espécie, existe apenas uma certeza: dificilmente estará certo.
Mesmo assim adoramos previsões. Não abrimos mão delas em hipótese alguma.
Em uma pesquisa recente, medindo performance de audiência e engajamento em conteúdos produzidos para o YouTube, vídeos que se propõem a prever o futuro são disparados os de maior sucesso. Mesmo sabendo que, possivelmente, até a previsão de tempo amanhã poderá estar errada.
Trazendo para a área econômica, qualquer pesquisa que você digitar no Google buscando as previsões do ano anterior chega a ser vergonhoso. Mas como sempre ouvimos dos especialistas… pior que um planejamento ruim, só não ter um planejamento.
Sendo assim, irei me arriscar mais uma vez e desenhar nossa visão para a economia ainda em 2021 e possíveis desdobramentos para 2022. Guarde este artigo e no final do ano me cobre.
Tendo em vista que 2020 pode ser considerado quase um ano que ainda não acabou, pois, fomos assolados pela maior pandemia do século, trazendo mudanças estruturais profundas em todas as áreas de nossas vidas, mergulhamos em um abismo e somente agora voltamos à superfície. É praticamente um marco zero e ano passado, em algum momento, olharemos para história e seus gráficos estatísticos como um ponto fora da curva. Para muitos… um ano perdido.
Mas o que esperar a partir de agora?
Apenas para relembrar, as previsões no auge da pandemia em 2020, antecipavam um cenário catastrófico, onde projeções do FMI e de renomadas casas internacionais projetam quase 10% de queda do PIB no Brasil e acima de 6% no mundo.
As medidas econômicas adotadas pelo Governo brasileiro, e a injeção de capitais promovida pelos principais bancos centrais do mundo, especialmente o americano, suavizaram os efeitos terríveis que as previsões antecipavam. Encerramos o ano com 4,5% de queda no PIB, a taxa de desemprego próxima dos 14% e uma taxa de juros jamais vista em nossa história econômica: 2% a.a.
Esta combinação de fatores, sem sombra de dúvidas, contribuiu de forma determinante para a “suavização” da tragédia anunciada (se é que podemos falar desta forma). O auxílio emergencial trouxe uma massa de consumidores, boa parte deles sem este poder antes da pandemia; os programas de microcrédito, somados a possibilidade de redução de jornada, reduções nas equipes mantiveram muitos negócios de pé; a manutenção dos empregos fez com que o consumo das famílias permanecessem ativos.
A menor taxa de juros de nossa história também incentivou investimentos em projetos de risco, crédito e prazos mais competitivos, fomentando ainda mais a veia empreendedora do brasileiro.
Resumo da ópera: chegamos ao final do primeiro semestre de 2021 zerando a conta, com um crescimento contratado acima de 5%, podendo chegar a 6% ao final deste exercício.
Analisando os dados de forma mais detalhada verificamos que extremos de desempenho chamam a atenção: o setor do agronegócio foi a grande locomotiva que acabou puxando boa parte desta recuperação, ajudado pela explosão de preços internacionais das commodities agrícolas e a apreciação cambial. Na ponta contrária, setores ligados à indústria de turismo, entretenimento, eventos e muitos negócios ligados à circulação de pessoas sofreram talvez a maior crise de suas histórias, levando ao inevitável fechamento ou sérias dificuldades de se manterem de pé.
Mas o que faz com que tenhamos uma visão otimista para o segundo semestre de 2021 e para o ano de 2022?
Uma série de fatores.
Iniciamos pela expectativa de crescimento do restante do mundo. A recuperação pós-covid não é um fenômeno brasileiro, o mundo inteiro recupera-se de forma vigorosa e deve entregar crescimento acima das expectativas.
O avanço da vacinação e os resultados efetivos na redução da curva de óbitos, permite que os governos acelerem a flexibilização das restrições, especialmente nos negócios. Estas medidas favorecem o que chamamos de ciclos domésticos, como varejo físico, indústria da construção, lazer, aviação e gradativamente a indústria turística também dá sinais de recuperação.
Quem já vinha bem, continua na mesma batida. Agronegócio, commodities de uma forma geral, manufaturados para exportação e setor de tecnologia seguem entregando números robustos.
Um dos efeitos colaterais de todas medidas emergenciais veio na forma de apreciação cambial e de inflação. O dólar no pico de sua cotação beirou os R$6,00 e o índice geral de preços no auge alcançou os 35%. O IPCA, índice que mede a inflação oficial, manteve-se abaixo dos 7%, mas já longe da meta de inflação.
A partir deste cenário o Banco Central inicia a retomada do ciclo de elevação das taxas de juros, visando justamente o combate à inflação e o realinhamento da taxa de câmbio. Os mercados trabalham com uma expectativa de projeção de 6,5% na taxa básica até o final deste ano.
O reflexo desta mudança de rota já refletiu também na taxa de câmbio, que voltou a gravitar na faixa dos R$5,00 e possivelmente encerra o ano abaixo deste patamar.
Apesar do patamar histórico de 2% na taxa básica significar um cenário inédito e altamente benéfico para nossa economia, fatores estruturais, especialmente a dívida pública e sua respectiva rolagem, não permitiram sustentar este patamar por muito tempo. A grande equação agora é descobrir a dose certa do remédio para não travar a recuperação e voltar a atrair investidores dispostos a financiar. Aliado a isto, uma inflação beirando os 6% deixa o juro real negativo. Isto também é inédito.
Outra consequência positiva de uma taxa de juros alinhada às principais economias e em patamares “civilizados” estimula o mercado de capitais. O ano de 2021 vai marcar uma das maiores entradas de capital externo dos últimos 12 anos, a maior quantidade de ofertas primárias na B3 desde 2008, emissões de crédito privado criação de fundos em praticamente todos os setores da economia, o Índice Bovespa atingindo patamares históricos de rompimento e o lucro das empresas listadas somadas no maior patamar dos últimos 10 anos.
Para se ter uma ideia, o número de CPFs que investem na B3 saltou de 800 mil para 4 milhões nos últimos 3 anos, sendo 2 milhões somente nos últimos 18 meses.
Imaginem então o dilema na mão dos dirigentes, responsáveis pela política monetária, na hora de decidir até onde levar o ciclo, sem tirar a economia desta rota claramente positiva. Não é uma tarefa das mais fáceis.
Mas como citei anteriormente, tenho um vício de sempre olhar para a parte cheia do copo e continuo muito otimista para o segundo semestre e para 2022!
Mas o que pode dar errado?
Bem, é sempre importante colocarmos no radar elementos de preocupação e que podem desviar esta rota positiva e atrapalhar este cenário de recuperação forte. São eles:
- Mais variações de cepas do COVID, trazendo uma terceira onda ainda mais devastadora que as anteriores. Risco baixo, pois até o momento a vacinação vem se mostrando muito eficaz e me parece que a pandemia vai tornar-se definitivamente uma gripezinha, como centenas que temos todos os anos;
- Descontrole da inflação: este é um risco não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Geralmente o remédio é amargo, através de subida de taxa de juros, apreciação de câmbio e diminuição da atividade econômica;
- Crise energética: a falta de chuvas, especialmente no Sudeste, pode trazer necessidade de racionamento e isto impactaria drasticamente na recuperação econômica;
- Crise política: bem, não listar este elemento de risco no Brasil é quase impossível. Desde que me conheço por gente este elemento sempre ronda qualquer análise e via de regra, dependendo do tamanho da encrenca, pode causar estragos violentos no comportamento econômico. Basta relembrar casos recentes como Joesley day, greve de caminhoneiros, impeachment da Dilma, lava-jato, mensalão, entre outros vários.
Via de regra, por mais que se tente elencar os riscos, geralmente A REGRA é que a confusão vem de onde ninguém espera e não está em nenhum radar.
Resumindo tudo até aqui, visualizo que apesar de todos os possíveis riscos teremos um segundo semestre de forte recuperação econômica, de emprego e crescimento das empresas.
O investimento continuará e o nível de confiança dos empresários e consumidores nunca esteve tão alto e este é um dos indicadores antecedentes mais relevantes na hora de projetarmos cenários futuros.
Como antecipei no início, resolvi correr o risco de antever os possíveis cenários daqui para frente e não poderia tentar cravar alguns números.
Então vamos a eles:
- Crescimento do PIB: 6%
- Inflação acumulada em 12 meses: 6,5%
- Taxa de juros básica: 7,0%
- Dólar: R$4,70
- Ibovespa: 142.000 pontos
- Taxa de desemprego: 12%
Caso eu esteja certo, estará confirmada a tese de um grande segundo semestre a todos nós.
Sinceramente… espero que sim!
Me conte o que você acha aqui nos comentários.